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“Quando o último rio secar, a última árvore for cortada e o último peixe pescado, eles vão entender que o dinheiro não se come”. Chefe Índio - Seattle - 1855

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“Quando o último rio secar, a última árvore for cortada e o último peixe pescado, eles vão entender que o dinheiro não se come”. Chefe Índio - Seattle - 1855

Assistimos nestes conturbados tempos a uma espécie de Inquisição, que é o Extremismo Ecológico. O tipo de acções que estas pessoas efectuam não tem nada a ver com ecologia nem sequer com a defesa do planeta. São apenas atitudes gratuitas, que só servem para preencher espaço nos telejornais. No entanto devemos estar atentos, porque a maioria das pessoas que assim procedem, são jovens com boas intenções, simplesmente erguem a bandeira errada, o que em vez de ajudar a causa só a prejudica.

 

Seguidamente dou alguns exemplos: querem acabar com a aviação. Para isso executam uma acção sem qualquer relevo para o objectivo. Impedem ( por momentos) um presidente de uma companhia aérea de falar e pintam uns vidros de vermelho. Onde está o erro desta acção? Sabemos muito bem que não é possível acabar com a aviação, contudo, já defendi no meu blog que as viagens aéreas até 3 mil quilómetros( quem diz 3 diz 4 ou 5 mil quilómetros) deveriam acabar, mas para isso é preciso primeiro criar uma rede de comboios de alta velocidade. Ora esta seria a bandeira que os extremistas deveriam empunhar. Lutar pela criação desse tipo de transporte para substituir os aviões. É claro que para viajar para ilhas ou destinos mais distantes não podemos eliminar os aviões, mas podemos reduzir e muito a poluição causada pelos seus gases.

 

Outro exemplo gratuito. Atiraram tinta verde a um ministro e dizem que Portugal nada faz pelo ambiente e que tem  culpas no cartório pela da morte de 11 mil pessoas na Líbia. Até parece que é o nosso país o maior poluidor. Qual a bandeira a empunhar neste caso? Lutar por uma rede de carregamento de automóveis elétricos, exigir o fim dos impostos que incidem sobre os mesmos e sobre as energias renováveis e mostrar que eles próprios dão o exemplo ao optar por abandonar os carros e que agora se deslocam em transportes públicos. Não é a esvaziar pneus, nem a exigir o fim dos combustíveis fósseis que se resolvem os problemas da poluição nem se fomenta a economia verde. Enfim isto são apenas exemplos de uma força de vontade mal dirigida. Perde-se a luta e perdem-se os motivos reais por que se deve lutar.

 

Só para terminar, penso que a polícia deveria identificar os que pintaram os vidros de vermelho e obrigá-los a limpar.

28 Set, 2023

Sentir a natureza

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Desde muito jovem que desenvolvi o amor pela natureza. Desde os tempos em que andava de mochila às costas, em que dormia na praia, e nas noites passadas em branco à volta de uma fogueira, que sinto a profunda inspiração que é sentir o pulsar da natureza. Sinto-me deveras triste sempre que se destrói um habitat, sempre que vejo um caçador de arma às costas a matar por divertimento, sempre que sinto que a maior parte da pessoas não tem alicerces morais para sentir a natureza. Quem viva e sente a natureza, sabe que existe algo de sagrado. Que há uma fusão entre alma e ambiente. Que há uma perfeição e sabedoria naturais, que por ser inexplicável nos faz sentir pequenos ante tamanha beleza. Amar a natureza é o ponto de partida para uma vida ecologicamente consciente e dentro do possível, sustentável. Quando existe essa identificação a identidade pessoal funde-se na identidade ecológica. É por isso que é preciso desde tenra idade incutir nas crianças os valores, os ideais e as experiências na natureza. Se o fizermos estamos a criar futuros adultos, não só mais conscientes como futuros defensores da natureza.

As leis fundamentais da natureza não foram revogadas - Eugene Odum

De forma simplificada tudo na natureza está ligado. Somos nós que estamos a "cortar" as ligações que nos permitem sobreviver no planeta.

Eis uma história ilustrativa:

As larvas aquáticas de variados insectos representam uma grande parte do alimento dos peixes de água doce. Durante os primeiros períodos do ano, a truta alimenta-se das larvas das borboletas nocturnas. Por outro lado os insectos são a fonte de alimento de numerosas espécies de aves. Toda a natureza se encontra ligada por laços invisíveis.

O homem ao procurar eliminar os insectos provoca o decrescimento do número de trutas, porque lhe retira uma grande parte do seu alimento.

Porque é que nos tempos passados havia um equilíbrio na natureza?

Porque as pessoas estavam habituadas aos mosquitos.

E porque é que agora existe o desequilíbrio?

Agora as pessoas talvez sejam mais sensíveis, ou foram influenciadas pelos fabricantes de produtos químicos. Ora se as pessoas são estúpidas ao ponto de envenenarem o seu meio ambiente é porque de alguma forma não estão a raciocinar e a proceder de forma a respeitar a ecologia.

Por outro lado, se os químicos são cancerígenos, ( e sabemos que o são) porque é que se autoriza a indústria química a produzi-los?

Porque é cómodo eliminar o que nos incomoda, ignorando os danos que provocamos no ambiente. E tal como expresso neste pequeno exemplo, também em todos os sectores da natureza estamos a desregular o planeta.

 

De forma simplificada a comunidade é um grupo de pessoas, que participa em conjunto  em acções e na tomada de decisões que a envolvem. Nos nossos tempos verifica-se uma maior predominância de individualismo que de comunitarismo. A vida comunitária é exigente. Exige participação. Participação essa que poucos estão dispostos a aceitar, precisamente porque não querem perder a sua individualidade, ou  porque simplesmente não gostam. De facto o individualismo reinante nos dias de hoje supera o comunitarismo. Na verdade a vida comunitária não representa qualquer sacrifício nem confusão. Penso que é mais o comodismo que leva ao individualismo. Parece-me serem estas algumas das razões pelas quais é tão difícil lutar pela natureza e pelo futuro do planeta. Não há comunidade sem um ideal. A sensação de auto-suficiência leva a que as pessoas achem que não é necessário relacionarem-se com as outras. É muito mais fácil ignorá-las e continuar o seu dia-a-dia. Assim  não é preciso conhecer o outro nem relacionar-se com ele. O individualismo leva a que não exista uma preocupação com os problemas sociais e ecológicos. Vemos hoje nas cidades uma população esquecida. Velhos, sem-abrigo, pessoas maltratadas, crianças em perigo. Todos estes são apenas aspectos a que fechamos os olhos e raramente são notícia de telejornal. Não existe qualquer dúvida que o equilíbrio entre individualismo e participação na comunidade reside no empenho de nos preocupar-mos com o outro. É preciso coragem e disponibilidade para tal? Sim!

21 Set, 2023

A posse

Todos os bens móveis são fabricados a partir de materiais extraídos da terra. Muitos desses materiais não são renováveis. Contudo raramente pensamos sobre o impacto do nosso consumo. Sobre a quantidade de lixo que geramos. Sobre a energia que consumimos e sobre a poluição que produzimos. Estamos habituados a um tipo de vida cómoda e fácil. Destruímos os ecossistemas para extrairmos os minerais, o carvão, o petróleo e abatemos árvores centenárias para responder ao nosso consumo. Fomos habituados a presumir que os bens materiais nos dão segurança. Fomos habituados a aceitar que ter é poder, e que a  felicidade vem do que possuímos. A posse é a separação daquilo que é meu daquilo que pertence ao outro. A posse eleva a autoestima, simplesmente não percebemos que esse sentimento é ilusório e passageiro. Temos fortemente enraizado o sentido da posse, e não pensamos que essa posse é feita de consequências. Na verdade ainda não temos dentro de nós a identidade ecológica que nos permite estar em sintonia com a natureza.

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Desde criança que nunca acreditei que poderia ter tudo o que desejava. Nunca pensei em conseguir um bom emprego. Ganhar um bom salário. Talvez por isso, nunca( ou poucas vezes) fui aliciado pelos bens publicitados nos media. Nunca me imaginei com um grande carro, nem com qualquer tipo de reconhecimento. Ao contrário, o meu prazer (desde criança) reside em observar a vida animal e vegetal. Sempre vivi numa área de 20 quilómetros, tendo como pano de fundo o rio Tejo. Os meus bens são observar os patos, os flamingos, uma águia-pesqueira, um alfaiate, um corvo marinho, etc. Descobri cedo que não se come dinheiro. Descobri mais tarde que a vida se encarrega de nos fazer chegar o que é preciso. E não há nada que pague um campo florido, uma teia de aranha com gotas de orvalho, um rio que saltita de pedra em pedra ou um campo de papoilas. Nada me dá mais prazer que isto, e comparar estes pequenos nadas com dinheiro é pura  perda de tempo. Thoreau construiu ( com as próprias mãos) uma cabana na floresta onde viveu vários anos. Ele escreveu sobre esse tipo de vida simples e filosófica. Quanto a mim, só sei que tenho na minha alma, um mundo inteiro de pequenas coisas gratificantes.

A escola deve ter um papel fundamental na formação ambiental dos alunos. Não só porque é uma forma de incutir respeito pela natureza, e também como forma de melhorar a relação da criança com o mundo, de forma torná-lo melhor. É preciso ensinar-lhes o que é ser ambientalista e ajudá-las a construir uma identidade ecológica e humanizada da relação homem/natureza. Deve a escola mostrar o contraste entre o que é a degradação ambiental e a natureza no seu estado primário e intocado. É na idade que medeia entre os seis e os dez anos que a criança mais absorve os ensinamentos que lhe irão modelar os passos ao longo da vida. Por isso deve a escola organizar passeios às montanhas, mochila às costas,percorrer trilhos, acampar junto a um riacho, e mostrar-lhe o ambiente sensorial dos prados floridos, a beleza dos animais em liberdade, o belo silêncio das florestas, a observação das aves, enfim ensinar-lhe a nutrir a alma com o que é belo e saudável. Todos nós adultos e crianças sentimos a necessidade de reincorporar a natureza nas nossas vidas, e todas as crianças devem ter uma experiência directa com a natureza. Outra experiência que a escola deve promover é a dos jardins e hortas urbanas. É muito fácil, bastam alguns vasos, algumas plantas, e algumas sementes, (pelas quais a criança deve ser responsável), e assim deve a criança começar a perceber a natuteza.

 

E agora um pequeno conto:

 

Era uma vez um menino que acreditava em fadas e duendes. Dizia mesmo que via fadas e duendes. Mas todos lhe diziam que tais seres não existiam. Então, pouco a pouco a criança deixou de acreditar e até de ver fadas e duendes. Aprendeu matemática, geografia, história, e todas as disciplinas que tornam um homem sério. Cresceu e tornou-se um adulto com muitos conhecimentos. Enriqueceu, mas perdeu a capacidade de sonhar.

 

Moral da história: parece que o conto não tem nada a ver com o texto supra, mas tem. Se aceitarmos as fantasias das crianças estamos a criar um mundo melhor e mais saudável.

 

 

Penso que se fala muito de ambiente, mas não se debate suficientemente o que é na verdade o ambiente. Observamos em várias cidades pessoas a manifestarem-se a favor do ambiente e da natureza. Mas para que servem essas manifestações? Em Portugal  há um grupo de jovens estudantes voluntariosos que se batem pelo clima, mas que lição tiramos das suas manifestações? Zero! Nada! Perguntemos a esses jovens o que é que fazem pelo planeta. Deixaram de andar de automóvel, ou os seus pais começaram a utilizar os transportes públicos? Certamente que não. Contudo os jovens batem-se pela abolição dos combustíveis fósseis. Perante esta situação, é importante que todos se manifestem a favor de alterações na forma de consumir e de viver no planeta. Mas o mais importante é praticar. Consumir menos e apenas o indispensável, é por aí que se pode começar, e está ao alcance de todos. Na verdade o folclore dos jovens, só prejudica a luta dos que verdadeiramente estão motivados pela mudança das mentalidades e das atitudes. Não é por se algemarem aos portões da escola que algo mudará no clima e na natureza. Enfim é próprio da juventude ser voluntarista e procurar mudar o mundo, mas penso que é preciso que reflitam em como o podem mudar e apresentem as suas ideias e consequentemente a defesa dos seus ideais.

“Quando o último rio secar, a última árvore for cortada e o último peixe pescado, eles vão entender que dinheiro não se come”.
Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:


"O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem. Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal ideia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo. Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exauri-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende. Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra. Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso. De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmitem a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e
ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum".
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